A cultura da cidade do Salvador/BA
A cultura
desenvolvida em Salvador, uma das primeiras cidades fundadas e capital do Brasil por mais de dois séculos, e
no Recôncavo da Bahia, exerceu
forte influência em outras regiões do país, e na própria imagem que se tem do
Brasil no exterior. Desde o século XVII observa-se no estado uma
dualidade religiosa: de um lado, a religião católica (de origem europeia); do outro, o candomblé (de origem africana). Aspectos históricos e culturais de Salvador foram
herdados pela miscigenação de
grupos étnicos africanos, europeus e
indígenas. Esta mistura pode ser vista na religião, cozinha, manifestações
culturais e personalidade do povo baiano.
Já no século XIX
firmou-se o gosto do baiano — tanto o de origem abastada quanto o pobre — pela
epigrama (tipo de poesia satírica); pelas modinhas (poesia lírica musicada); e,
também, pelos sermões religiosos, praticado desde Frei Vicente do Salvador e tendo o
ápice em Antônio Vieira. A chegada dos
africanos vindos do golfo de Benim e do Sudão,
no século XVIII, foi decisiva para desenvolver a cultura da Bahia como um
todo. Segundo Nina Rodrigues, isso é o
que diferencia a cultura baiana da cultura encontrada nos outros estados
brasileiros. Nesses, os africanos que vieram eram, predominantemente, os negros
bantos de Angola.
Os negros iorubanos e nagôs estabeleceram uma rica cultura nas terras da Baía de Todos os Santos. Pois que tinham religião própria, o candomblé; música própria, a chula; dança própria, praticada no samba de roda; culinária própria, que deu origem à culinária baiana, inventando diversos pratos com base no azeite-de-dendê e leite de coco (tudo com muita farinha-de-guerra dos índios tupinambás e tapuias), e sobremesas, desenvolvendo o que veio de Portugal; luta própria, o maculelê; vestimenta própria, aliando as já tradicionais indumentárias africanas às fazendas portuguesas; e uma mistura de línguas, mesclando iorubá com português.
No século XIX, os visitantes começaram a cultuar a imagem da Bahia como de uma terra alegre, bonita, rica (por causa da cana-de-açúcar e das pedras preciosas das Lavras) e culta, que dava ao Brasil grandes intelectuais e Ministros do Gabinete Imperial. Na década de 1870, as baianas começaram a migrar para o Sudeste do país em busca de emprego. E, assim, essas "tias" baianas foram disseminando a cultura da Bahia, vendendo acarajés nos tabuleiros e gamelas, dando festas onde se dançava samba de roda (que, mais tarde, modificado pelos cariocas, iria resultar no samba como se tornou conhecido), desfilando suas batas e panos-da-costa pelas ruas da Capital Federal. Por isso, naquela época, chamava-se de baiana todas as negras bonitas, segundo afirma Afrânio Peixoto, no "Livro de Horas".
A partir da década de
1920 do século XX, torna-se moda fazer músicas em louvor à Bahia. E houve
grande polêmica quando o sambista Sinhô, contrariando, cantou que a Bahia era
"terra que não dá mais coco". Baianos e cariocas, tais como Donga, Pixinguinha, Hilário Jovino Ferreira e João da Baiana, foram
defender a Bahia. A partir da década de 1930, primeiro pelos romances de Jorge
Amado e depois pelas músicas de Dorival
Caymmi, ficou estabelecida ante o Brasil a imagem
que se tem da Bahia, perdurando até os dias atuais.
Em agosto de 2015,
candidatou-se a ser uma das cidades a integrarem a Rede de Cidades Criativas
da Unesco, na categoria "Música".
O anúncio da adesão deu-se em dezembro de 2015 e a entrega do documento
de reconhecimento do título de "Cidade da Música" foi entregue em
junho de 2016. Até então, somente Curitiba e Florianópolis faziam parte da rede (ingressaram em 2014), mas nas
categorias de design e gastronomia, respectivamente.
- ARQUITETURA
O Centro Histórico de Salvador foi designado em 1985 como um Património da Humanidade pela Unesco. A cidade representa um bom exemplo do urbanismo português a partir de meados do século XVI com sua cidade administrativa sendo superior da sua cidade comercial, e uma grande parte da cidade manteve as raízes de suas ruas e casas coloridas. Como a primeira capital da América portuguesa, Salvador cultivou o trabalho escravo e tinha seus pilares instalados em lugares abertos, como o Terreiro de Jesus e as praças que hoje conhecemos como Praça Tomé de Sousa (também conhecida como Praça Municipal) e Praça Castro Alves. O "Pelourinho" era um símbolo de autoridade e de justiça para alguns e injustiça para outros. No que era antes, o Centro Histórico mais tarde mudou-se para o que agora é a Praça da Piedade, e acabou emprestando seu nome ao complexo arquitetônico e histórico do Pelourinho, parte do Centro Histórico da cidade.
Desde 1992, houve um maciço investimento estatal no bairro em segurança e financiamento na instalação de hospedarias, restaurantes, escolas de dança e outras artes, além duma grande restauração dos casarios que foi iniciada. Contudo, certas construções não foram recuperadas internamente, já que as fachadas foram priorizadas, dentre outros motivos, devido ao estado do interior do casario que impedia a reconstrução fiel. Com a restauração, um esforço se deu para tornar a área uma atração turística altamente desejável não só dos turistas nacionais como também estrangeiros. Mas também, moradores desses casarios foram expulsos e a maioria era de afrodescendentes. Este processo deu origem ao debate político substancial no estado da Bahia, desde os antigos moradores do Pelourinho que foram excluídos (foram recolocados em outros bairros de Salvador) até a maior parte dos benefícios econômicos ganhos (aproveitados por alguns).
Salvador é considerável pela sua riqueza e prestígio que conquistou durante a época colonial (como capital da colônia durante 250 anos, e que deu origem ao Pelourinho) e reflete-se na magnificência dos seus palácios coloniais, igrejas e conventos, a maioria deles data dos séculos XVII e XVIII. Estes incluem:
- Catedral de Salvador: antiga igreja jesuíta da cidade, construída na segunda metade do século XVII. Belo exemplo da arquitetura maneirista e de decoração.
- Igreja e Convento de São Francisco: Igreja e Convento dos franciscanos, datam da primeira metade do século XVIII. É outro mais belo exemplo da arquitetura colonial portuguesa. A decoração barroca da Igreja está entre as melhores do Brasil.
- Igreja de Nosso Senhor do Bonfim: Igreja rococó com decoração interior neoclássica. A imagem de Nosso Senhor do Bonfim é o mais venerado na cidade e a Festa de Nosso Senhor do Bonfim acontece sempre em janeiro e é o mais importante da cidade depois do Carnaval.
- Mercado Modelo: Em 1861, na Praça Visconde de Cairu, no Edifício da Alfândega foi construído, com uma rotunda (grande sala circular com um teto abobadado) na extremidade traseira, onde os navios ancorados descarregavam suas mercadorias. Em 1971, um mercado começou a operar no Edifício da Alfândega, e treze anos depois, ele pegou fogo, queimando tudo e logo depois passou por uma reforma. Hoje, existem 200 stands com uma enorme variedade de Artes e ofícios feitos na Bahia, bem como de outros Estados na Região Nordeste do Brasil, dois restaurantes e diversos bares que servem petiscos e bebidas típicas (como licor, quentão, etc.).
- Elevador Lacerda: Inaugurado em 1873, este elevador foi planejado e construído pelo empresário Antônio Francisco de Lacerda, as quatro cabines do Elevador conectam os 72 metros de altura entre a Praça Tomé de Sousa na Cidade Alta à Praça Cairu, na Cidade Baixa. Em cada percurso, tem a duração de 22 segundos e o elevador transporta 128 pessoas, 24 horas por dia.
- LITERATURA
Após a Independência do Brasil (1822), Salvador continuou a desempenhar um papel importante na literatura brasileira. Significativos escritores do século XIX associados da cidade incluem o poeta romântico Castro Alves (1847-1871) e o diplomata Ruy Barbosa (1849-1923).
No século XX, o
baiano Jorge Amado (1912-2001), embora não nascido em Salvador, ajudou
a popularizar a cultura da cidade ao redor do mundo em romances como Jubiabá, Dona
Flor e Seus Dois Maridos e Tenda dos Milagres.
- EVENTOS
No dia 2 de fevereiro, os adeptos do candomblé homenageiam a rainha do mar, Iemanjá simbolizada numa sereia. A festa acontece no Rio Vermelho, quando centenas de pessoas ligadas direta ou indiretamente ao Candomblé "entregam" presentes à Rainha do Mar, depositando perfumes, flores e outras oferendas em barcos que transportam os presentes ao alto mar. Algumas pessoas simplesmente jogam os presentes ao mar. É uma grande e poderosa manifestação de fé na força da Mãe d’Água, que tem desdobramento profano nas barracas padronizadas, onde a crença é transformada em samba, festa que se prolonga até altas horas da noite, regada principalmente a cerveja.
Entre fevereiro e
março ocorre o Carnaval. Durante sete dias, da quarta-feira até a manhã da
quarta-feira de Cinzas, acontece a maior festa do mundo em participação popular,
que toma toda a cidade de foliões, vestidos nos abadás e becas ou com
fantasias, rumo aos diversos circuitos do carnaval. Os foliões chamados de
"pipocas" são aqueles que não têm condições de pagar por uma
fantasia, os abadás, e sair dentro de um bloco e acabam pulando o tempo todo
fora das cordas que circundam os trios elétricos. Existe o circuito central,
do Campo Grande à Praça Castro
Alves; outro, na orla, sentido Barra-Ondina; e o mais tradicional, do Pelourinho à rua Chile, no Centro Histórico. Neste circuito, o forte é a música das bandinhas de
sopro e percussão, os afoxés, blocos
afros e os fantasiados e, nos demais, desfilam os grandes blocos, com os
possantes trios elétricos, uma criação dos baianos Dodô e Osmar que virou mania
em todo o Brasil.
Na segunda quinzena
junho, ocorre a também bastante aguardada São João, que na capital tem o nome de
"Arraiá da Capitá" e se concentra no Parque de Exposições, reunindo
cantores de várias partes do Brasil e do estado da Bahia, barracas com comidas
e bebidas típicas.
O 2 de julho é a data
magna baiana, quando ocorre em Salvador e cidades do Recôncavo a festa pela independência
da Bahia, que tem o Caboclo e Cabocla como ícones
da participação popular na defesa do que viria a ser a nação brasileira contra
o domínio português. O desfile do 2 de julho aconteceu pela primeira vez em
1824 como forma de protesto do povo baiano contra a continuidade da ordem
social vigente.
Em 27 de setembro
é São Cosme e São Damião, dia em que devotos
fazem caruru e distribuem bala para as crianças. Esta festa, porém, se restringe basicamente ao Mercado de Santa
Bárbara, na Baixa dos Sapateiros, região do Centro Histórico de Salvador.
Muitos adeptos do Candomblé, entretanto, fazem festas particulares em suas
residências, distribuindo o tradicional caruru e balas.
De 29 de novembro a 8
de dezembro se comemora o dia da Nossa Senhora da Conceição. O ponto culminante
da festa de Nossa Senhora da Conceição da Praia é em frente à igreja de mesmo
nome, nas imediações do Elevador Lacerda. Ali são armadas barracas onde são servidas comidas e
bebidas, ao som de reggaes, pagodes e sambas os
mais diversos.
- ESPORTES
Como praças
esportivas do futebol, o grande palco sempre foi o Estádio Octávio Mangabeira, estádio do
governo estadual no qual o Bahia mandava
seus jogos, que foi reconstruído, e agora conta com o nome de Itaipava
Arena Fonte Nova. O segundo mais importante estádio
da cidade é o Estádio Manoel Barradas,
mais conhecido como Barradão, que é o estádio do Vitória. Há também o Estádio de Pituaçu, de propriedade do governo estadual no qual o Bahia
manda ocasionalmente seus jogos, e também estádios de menor destaque atual
(porém muito famosos no passado) como o Parque Santiago.